pela vida que te espreme, te empurra e te sufoca vencida pelo cansaço das palavras não ditas
quarta-feira, setembro 29, 2004
E nessas de como anda a vida e dos tempos em que abandonei o blog por causas justas, afirmo: há solução pra tudo. Basta não beber em dias úteis e conversar semanalmente com psiquiatras. Tu cai, te quebra e te joga na merda pras moscas te catarem. Depois levanta, chora, ri, entra em TPM, busca ajuda, mas não diz que precisa de mais abraços e menos esporros. E um viva aos belos esporros que tenho levado de tudo e de todos. Tenho tido pena de mim, mas acho que isso não combina comigo e fica meio clichê. Então deixa pra lá. Se bem que é como me disseram certa vez, tudo que vai, volta. E eu continuo assim, colhendo os espinhos que plantei por anos. Não sabia que eles cresciam tão fortes.
Fora isso, o sarau no juvenil estava ótimo. Pena não ter ficado pra ver a banda de blues tocar.
Ah, ando me incomodando com o apartamento novo. Na verdade não com ele, mas com as coisas que entrarão nele. Advertência: não comprem colchões na ortobom. Apesar de ótimos, possuem a particularidade rara de demorarem anos para serem entregues. Desconfio que entregarão o meu assim que expirar a garantia. Uns cinco ou dez anos, talvez. Não lembro.
Ah 2, viva, viva, viva White Stripes. I love Jack White like a little brother.
Amanhã. No Bongô Bar. 21h30. Segunda edição do Poetikaos, nosso sarau. Dessa vez o bar estará com o ambiente um pouquinho diferente e contaremos com a ajuda de um microfone, o que facilitará em muito a leitura dos textos. Não deixem de ir.
Espero que não se crie a tradição de tempo ruim em dia de sarau. No primeiro foi assim. Nada disso pra sempre.
Só pedaços de músicas explicam pedaços de mim. Talvez nem eles. Não consigo escrever. Deixarei que falem por mim...
*And in your eyes I thought I saw everything and... I'll take the blame. Baby, you're lying.
Do what you want cause I tried everything and... I'll take the blame. Baby, I'm dying. *You feed the beast I have within me. You wave the red flag, baby you make it run, run, run.
Standing on the sidelines, waving and grinning... You fondle my trigger, then you blame my gun.
Paulo tem 14 anos e é colega da minha irmã mais nova, da Pri. Paulo diz que é bissexual. Minha irmã diz que ele é louco. Não por ser bissexual, mas porque ele é, assim, meio estranho, meio nervoso, sabe?! Paulo desmaia com frequência. Na aula, no parque, no restaurante, na festa. Paulo ficou tonto no aniversário de 15 anos da Pri. Enquanto todos dançavam, Paulo se apoiava na beira do palco. Paulo tem um psiquiatra. E quem não tem? Paulo toma psicofármacos em doses cavalares. E se apóia nas mesas, nos bancos dos parques, nos palcos por onde passaria tranquilamente não fosse a estupidez dos pais por acharem que ele tem um distúrbio, por ele dizer por aí que é bissexual. Ele não pode ser, não pode gostar de meninos e meninas e, se gostar, não deve dizer. Que Paulo fique quieto.
Pois eu afirmo que Paulo é o menino mais interessante que eu conheci até hoje. Paulo tem visão, é criativo, é bonito, é inteligente. Faz filmagens divinas e tira fotos muito melhores do que muita gente grande. Mas mesmo assim ele tem que se apoiar na beira do palco. Ninguém entende Paulo. Talvez nem eu entenda muito bem seu mundo. Vejo o que todos vêem de Paulo, mas não concordo com o que dizem. Agora entendo o que tantos gênios passaram pra defender suas idéias, o quanto foram mal vistos, mal compreendidos. Não sei se Paulo é gênio, mas parece que só eu sei que Paulo vai longe. E que um dia Paulo vai se levantar e calar a boca de todo mundo. Vai fazer com que todos tenham que se apoiar na beira do palco para admirá-lo. Porque Paulo pode, Paulo é mais que os outros meninos, é mais que seus pais. Paulo vai longe.
