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quinta-feira, abril 29, 2004


E eu fico assim mesmo, meio sem jeito de falar porque as coisas andam acontecendo rápido demais e a minha vida anda tomando o rumo que eu temia. Quando ela me contou detalhadamente sobre o meu problema meu coração disparou. Ali estava a resposta à pergunta que eu tanto retardei. Se explicavam todas as noites mal dormidas, os barulhos assustadores, as manias de perseguição, a subida e a descida, a euforia e o poço. As putas finalmente ganhavam um nome comprido.
Ela me disse que o choro sem motivo acabaria, que a vontade de morrer iria embora, que eu devia entender que a minha intensidade tanto pras coisas boas quanto a procura pelas ruins não eram assim tão normais quanto eu pensava. Ela me fez perguntas demais, me fez dizer o que eu não digo pra ninguém sem me dar tempo de pensar antes de responder. Ela foi o meu espelho e nela eu vi os meus olhos cansados, o desespero de um olhar perdido que eu tanto evitei enxergar, o meu corpo quebrado, minhas pernas cansadas, minhas mãos sem destino. Mas nos olhos dela eu também vi minha salvação, vi que os braços dela me protegeriam da queda interminável. Minhas hesitações, minhas crises, meus medos e meu desespero ficaram jogados no chão daquela sala do prédio bonito perto da Goethe. Ela arrancou minhas máscaras em menos de uma hora. Fiquei ali me sentindo nua, mas feliz. Finalmente alguém soube como tirar tudo de mim do jeito certo. E é claro que eu deixei. E vou continuar deixando porque eu cansei de ser vencida por ser teimosa. Cansei das variações fáceis de humor, das vezes em que deixei tanta gente perdida, da minha conduta duvidosa com quem não merecia, dos meus exageros e precipícios emocionais.
Adeus putas! Prometo que serão bem comidas!
E que chegue logo a semana que vem!

sábado, abril 24, 2004


A chuva está parando. O ar está voltando. Espero que não caia tudo outra vez. Mas se cair - e eu acho que vai - estarei preparada. Chega de me pegarem de surpresa. Putinhas. Piranhas.

segunda-feira, abril 19, 2004


Agora só sobrou a puta velha. Acho que é com ela que eu devo ficar mesmo. Nascemos uma pra outra. Não vou mais lutar contra isso. Perdi as forças.
E que continue chovendo pra sempre.

quinta-feira, abril 15, 2004


As putas andam dando horrores por aí e parecem ter me abandonado por alguns minutos. Por isso aproveito e escrevo e reclamo: quero chuva.
E outra, abandonarei este blog por mais alguns dias porque pro lugar onde eu vou não tem computador, não tenho tempo de ficar triste, não tem puta nenhuma me cercando, não tem bebida, não tem os professores da faculdade me enchendo de trabalhos, não tem pessoas desinteressantes, não tem gente tentando estragar o que está começando, não tem mãe me xingando por eu ficar doente e não tem telefone de psiquiatra.
Vou tentar ser feliz um pouquinho.

segunda-feira, abril 12, 2004


Perdoem-me pela ausência. Ando muito ocupada com as putas, mas em breve arranjarei alguém para comê-las, já que nada do que eu faço as satisfaz. Quero remedinho.
Ah, e eu também conheci um belo par de olhos verdes.

terça-feira, abril 06, 2004


Sem uma razão aparente ela sempre volta. Ela sempre vem. Essa puta de quinta senta na minha cama e faz cafuné na minha cabeça até tudo começar a rodar, até eu me assustar com os barulhos, até eu tentar dormir agarrada na lâmpada de cabeceira, até eu querer morrer. Ela ri de mim enquanto eu me debato com os olhos bem abertos no quarto escuro. E eu não consigo sair do quarto porque ela não deixa. Ela me puxa pra perto e não diz nada. Só ri de mim e das paranóias, das crises, da vontade de fechar os olhos por alguns dias. Ela me dá colo porque eu não tenho coragem de pedir pra mais ninguém, porque ela me faz acreditar que eu não preciso de mais ninguém, que eu não posso confiar em ninguém. Depois a velha puta da depressão vai embora e vem a outra com seus saltos altos. Linda, linda. A puta da euforia me domina, me deixa bem, me faz feliz. Essa ri comigo e não de mim. Ela me faz acreditar que tudo está bem, que tudo vai melhorar. E eu acredito nela. Ela me promete que a puta velha não vai voltar. Mas ela sempre volta. E me chuta e me atira no chão do quarto de novo mesmo que eu implore pra ela parar. Depois me junta e me devolve as paranóias, o medo, a falta que eu sinto da outra puta e a crença de que só a velha existe. Só ela em mim. Dentro de mim.

sábado, abril 03, 2004


Acabo de descobrir que eu quase fui assaltada ontem. Obrigada mulheres da casa da esquina! Eles escondidos no murinho da escola de natação daqui da rua e eu chegando de madrugada. Eles observando meus movimentos e esperando eu sair do carro pra abrir o portão. Elas já estavam de olho neles. E eles não sabiam. E eu não sabia nem deles e nem delas. Volto pro carro me tropeçando. Eles levantam e se preparam. Elas se desesperam e começam a acender luzes e a caminhar pra lá e pra cá dentro de casa e a fazer barulhos com as cortinas. Eles se assustam e voltam pro murinho. Eu entro com o carro e fecho o portão. E vou dormir. E deixo o mundo todo acontecendo lá fora sem saber de nada. Elas se acalmam porque salvaram a menina vestida de colegial. Moram a três casas daqui de casa e eu nem as conheço. Nunca vi. A mãe conhece e me conta a cena que protagonizei sem saber. E pensar que eu nunca gostei de vizinhos.

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